A pré-história deve a sua existência a três “inspirações”: a histórica, no sentido de prolongar para trás no tempo a narrativa da vivência humana anterior à existência da escrita e do Estado; a antropológica, que permitiu, pela observação de culturas não europeias, perceber algumas afinidades entre elas e o que se imaginou ter sido o nosso passado ante-histórico; e a biológica, pelo contributo que a paleoantropologia física e a genética deram à compreensão de humanidades hoje extintas. Muitos são os problemas por esclarecer e diversas as perspetivas sobre a relação destas disciplinas entre si. Restringindo-me à antropologia dita “cultural”, tento aqui apontar sugestões interpretativas que poderão ser úteis para a construção de uma pré-história mais verosímil e interessante, hoje.
As nossas imagens representam-nos? Partindo da análise de discursos expositivos das exposições de museus de arqueologia, referentes ao período da Pré-História, pretende-se questionar sobre as (in)visibilidades das mulheres e interrogar de que forma a construção de determinadas narrativas poderá contribuir para a validação de um discurso dominante. O perigo de transmissão de estereótipos como uma verdade inquestionável nos museus levanta sérias questões que têm que ser trazidas para discussão pública. Com base nas arqueologias feminista e de género, procurar-se-á provocar esse pensamento crítico acerca da missão destas instituições de inegável importância social.
A profissionalização da Arqueologia portuguesa levou à necessidade de caracterização do sector. Seguindo estudos realizados noutros países, pretende-se: analisar comportamentos sexistas e de assédio/abuso sexual em Arqueologia; compreender as consequências destes a nível pessoal/profissional. Em 2021 o Sindicato dos Trabalhadores de Arqueologia, elaborou um inquérito de modo a aferir práticas de sexismo/assédio/abuso sexual em ambiente profissional/académico na Arqueologia portuguesa. Os resultados são preocupantes, denotando falta de consciencialização sobre o tema, ausência de códigos de conduta e ineficácia dos canais de denúncia. As vítimas têm dificuldade em prosseguir em Arqueologia, vendo afetadas a sua saúde/vida pessoal. Pretendeu-se discutir as relações de poder baseadas no género e incentivar a criação de protocolos de prevenção, fundamentais a uma Arqueologia segura, justa e igualitária.
Neste trabalho pretende-se efectuar um balanço sobre o ensino da Arqueologia em Portugal, desde o final do século XIX e a actualidade. A partir dos anos 90 do século XX, o número de estabelecimentos de ensino superior envolvido no ensino da disciplina aumentou, diversificou-se e disseminou-se no território. No século XXI regista-se um aumento exponencial de mestrados e doutoramentos. A oferta formativa revela que os estabelecimentos de ensino superior implementaram estratégias diferenciadas na sua oferta, ao nível dos conteúdos curriculares e dos graus/ciclos de estudos leccionados. A formação superior em Arqueologia produziu uma alteração significativa no nível habilitacional dos arqueólogos portugueses, que evoluiu da quase ausência ou indistinção, para um padrão de elevada, cumulativa e especializada qualificação académica e científica.
O Grupo Pró-Évora (GPÉ) tem um longo histórico de ligação à Associação dos Arqueólogos Portugueses (AAP), desde a sua fundação, em 1919, seguindo, no fundo, a tradição Oitocentista de membros da AAP residentes em Évora ou, não sendo residentes, possuíam fortes conexões à cidade, nomeadamente por via profissional. Decorridas várias décadas, o GPÉ dirige-se, a 3 de abril de 1968, à Presidência da Junta Distrital de Évora, com uma série de propostas de atividades destinadas a não «afrouxar a sua ação». Entre elas, constam pequenos cursos de arqueologia. As informações incluídas nesta missiva dão-nos conta de vários pormenores, nomeadamente quanto ao entendimento de ‘arqueologia’, aos conteúdos contemplados, formadores indicados e da ‘ciência cidadã’ avant la lettre.
O projeto do Metro Mondego tem vindo a desenrolar-se desde o início do século XXI, motivando profundas alterações urbanísticas na cidade de Coimbra, nomeadamente no eixo Av. Cidade de Aeminium – Câmara Municipal. Por outro lado, este projeto originou diversas intervenções que vieram contribuir para uma melhor caracterização da evolução do Centro Histórico da cidade de Coimbra ao longo do tempo, nomeadamente da zona da “Baixinha – Bota-Abaixo”. O objetivo da presente comunicação é o de realizar um historial deste empreendimento, abrangendo o período entre 2002 e 2022, do ponto de vista da arqueologia urbana e da sua salvaguarda, exclusivamente a partir da documentação relativa ao processo mantida em arquivo na Direção Regional de Cultura do Centro.
O presente estudo resulta da compilação bibliográfica de sítios arqueológicos do atual território português com ocorrência de peixes de água doce e migradores. Os 20 sítios examinados abrangem um amplo período cronológico (90.000 B.P. até aos séc. XVI-XVIII d.C.). A informação recolhida mostra maior frequência de peixes migradores, principalmente tainhas e sáveis, seguida por peixes de água doce, sobretudo barbos. A presença de carpa e lúcio, duas espécies reportadas como exóticas, é analisada e discutida. O trabalho manifesta a importância das coleções de referência, dos estudos de comparação osteológica, e das metodologias de recolha empregues nas escavações arqueológicas. Espera-se que esta síntese contribua para um melhor conhecimento da biogeografia e utilização dos peixes dulciaquícolas e migradores no território ibérico.
Por formação, os arqueólogos são incentivados a registar todo o processo de investigação, incluindo metodologias, artefactos e a estratigrafia. É comum consultar registos anteriores como listagens de artefactos, sítios e outros dados. No entanto, a obtenção destes dados requer pesquisas na bibliografia, contactos com os pares e acesso à informação existente em inúmeras instituições... A comunidade multiplica-se em esforços isolados e repetidos, com a mesma finalidade e, em última instância, limitando o próprio processo científico. Este projeto propõe-se auxiliar a comunidade a ultrapassar esta dificuldade, através da extração, organização e partilha de conhecimento arqueológico. Para tal, serão aplicadas metodologias de Processamento de Linguagem Natural (PLN) para a Extração de Informação Arqueológica que será partilhada em Acesso Aberto desde perspetivas FAIR.
A História e História da Arte revelam-nos a essência que revestia este templo, e as suas práticas rituais e culturais, mas a sua leitura efectiva só pode ser feita recorrendo à Arqueologia, no âmbito das cotas positivas. Neste sentido, iremos percorrer algumas das suas diversas “camadas”, individualizando-as, de modo a que o seu entendimento seja integrado nas diferentes épocas de que fez parte ao longo dos 600 anos.