Neste artigo apresentamos o trabalho de campo etnográfico realizado com as comunidades do entorno dos Sítios Pré-históricos de Arte Rupestre do Vale do Rio Côa e de Siega Verde, durante os anos de 2022 e 2023. Explicitaremos também as hipóteses de investigação que orientaram o processo de produção de dados e as opções teóricas e metodológicas adoptadas. Abordaremos os métodos de investigação qualitativa utilizados para analisar como os diferentes grupos de pessoas atribuem diversos valores aos sítios arqueológicos. Os valores patrimoniais são por nós entendidos como as formas pelas quais um objecto patrimonial é significativo nas suas várias valências, como por exemplo, o seu valor cultural, económico, histórico, científico. Nesse sentido, adoptamos como definição de valores patrimoniais os “significados e valores subjectivos que indivíduos ou grupos de pessoas atribuem ao património” (Díaz-Andreu 2017).
Com o objetivo de promover a interação entre gerações, combater a discriminação relacionada à idade e incentivar um envelhecimento ativo e participativo, o Instituto Terra e Memória, em parceria com a Câmara Municipal de Mação e a NERSANT, desenvolveu o Parque Arqueosocial do Andakatu em Mação. Este projeto empreendedor e sustentável, assente na inovação social, busca criar referências pedagógicas, programas educativos e fortalecer a coesão social por meio da partilha de conhecimentos sobre pré-história e tradições ancestrais com as crianças e jovens. O Parque recebeu financiamento do Programa POISE - Programa Operacional Inclusão Social e Emprego, e contou com a colaboração técnica do Museu de Arte Pré-Histórica e do Sagrado do Vale do Tejo.
Em 2017, a Associação dos Arqueólogos Portugueses iniciou um projecto de investigação para o povoado calcolítico de Vila Nova de São Pedro (Azambuja, Portugal), com o objectivo de valorizar, através do conhecimento científico, um sítio arqueológico com grande destaque no percurso historiográfico da Arqueologia ibérica. Uma das vertentes do projecto VNSP3000 foi, desde o primeiro momento, a recuperação das memórias ligadas a este sítio arqueológico e às sucessivas campanhas de escavação que aí decorreram, através do registo dos relatos daqueles que lá trabalharam e constituem uma parte fundamental da Identidade de Vila Nova de São Pedro. Esta Arqueologia da Memória tem sido trabalhada através de diversas actividades, interligada com numerosas acções de Arqueologia Pública, trazendo VNSP e as suas histórias (calcolíticas e contemporâneas) para a sociedade civil. Estas actividades (visitas, Dias Abertos, workshops, palestras, publicações, refeições e momentos lúdicos), realizadas em colaboração com diversas instituições parceiras, possibilitam uma eficaz e efectiva disseminação e transmissão do conhecimento a públicos muito diversos.
No âmbito do projeto de conservação e restauro do Monumento Pré-histórico da Praia das Maçãs promovido pelo Município de Sintra realizaram-se três campanhas de escavações arqueológicas entre 2020 e 2022. Paralelamente, iniciou-se a divulgação dos resultados dos trabalhos arqueológicos, devidamente contextualizados no longo historial de investigação deste sítio. Neste artigo pretende-se apresentar as ações de divulgação em curso, refletindo-se sobre a importância do envolvimento da comunidade local no processo de investigação, salvaguarda e valorização deste monumento.
O povoado do Bronze Final do Outeiro do Circo (Beja) foi objeto de diversos projetos de investigação arqueológica desde 2008. A Educação Patrimonial e a Divulgação Arqueológica surgiram vinculadas à investigação, permitindo o envolvimento das comunidades locais e alcançar novos públicos. Em 2022-2023 iniciou-se um projeto assente em estudos analíticos e no reforço da divulgação através de sessões para públicos distintos em diferentes localidades. Foram concebidos workshops de estudos cerâmicos e faunísticos, sessões dedicadas à comunicação sobre património e oficinas de olaria pré-histórica, a realizar em Beja, Coimbra e Braga. Foram ainda integradas ações complementares como conferências sobre a Idade do Bronze na região de Beja e a colaboração em atividades de Educação Patrimonial para projetos em países africanos.
A Festa da Arqueologia é um evento promovido pela Associação dos Arqueólogos Portugueses, realizando-se periodicamente no Museu Arqueológico do Carmo. Trata-se de um projecto iniciado em 2010, cuja sexta edição ocorreu em 2022, juntando numerosas instituições nacionais relacionadas com Arqueologia, Património e Museus. O exercício desenvolvido neste trabalho pretende responder à pergunta: como é que a Festa da Arqueologia se enquadra num projeto de Arqueologia Pública? Quais os pressupostos que levaram à criação da Festa da Arqueologia, os seus objectivos e as razões do sucesso desta iniciativa? O conceito de Arqueologia Pública é aqui discutido nas suas diversas vertentes, desde a educação patrimonial, disseminação do conhecimento e transmissão de conceitos através de actividades programadas e específicas para um público não especialista.
Apresentação em vídeo (ver aqui).
A legislação nacional referente ao património arqueológico (lei n.º 14/2014) preconiza a “oportunidade de aproximação da disciplina científica aos cidadãos”, sendo imprescindível a devolução ao público do resultado dos trabalhos arqueológicos que documentam um património comum que se esconde no subsolo. A valorização do património passa não apenas pela sua investigação e publicação, mas também, quando possível, pela sua musealização e/ou acessibilidade. Contudo, o paradigma da evolução e a intervenção humana no território implica igualmente uma cedência, que se reflete na reutilização e transformação, sobretudo em área urbana. Assim sendo, muito do património arqueológico identificado nas cidades é hoje pouco acessível. É neste contexto que surge o Open House Arqueologia, iniciativa do Museu de Lisboa – Teatro Romano, que pretende divulgar e dar a conhecer ao público alguns dos vestígios arqueológicos desconhecidos ou, por norma, inacessíveis na cidade de Lisboa. Na primeira edição, em 2022, a iniciativa possibilitou o acesso de 640 pessoas a 11 pontos de interesse, durante dois dias. O critério de seleção de locais prendeu-se por um lado, com a proximidade geográfica ao monumento romano, sítio que ocupa a investigação da instituição organizadora, por outro com a inacessibilidade habitual dos sítios, alguns dos quais em espaços privados e/ou por norma encerrados ao grande público. A iniciativa foi ampliada em 2023 com a inclusão de novos sítios arqueológicos, para além dos onze espaços inseridos na programação de 2022, que na sua maioria se mantiveram. Nesta segunda edição esta parceria foi alargada a outras instituições culturais, que se juntaram à missão de aproximar o cidadão da Arqueologia que o rodeia. Olhar para a cidade de Lisboa como complexo sítio arqueológico em constante mutação é um dos objetivos desta iniciativa que, simultaneamente, implica a investigação das intervenções realizadas neste local e sua descodificação para um público mais alargado, procurando uma vertente participativa e inclusiva da atividade arqueológica.
Independentemente do significado que se possa atribuir ao termo “Arqueologia Pública”, pode considerar-se que a intervenção arqueológica no Largo do Coreto e envolvente em Carnide (Lisboa), realizada entre Março de 2012 e Abril de 2013 (LCOR 12), materializa esse conceito e prática. Os trabalhos arqueológicos realizaram-se em espaço público, à vista do público, no âmbito de um projeto urbanístico público, impostos por regulamentação pública, seguindo indicações específicas emanadas de instituições tutelares públicas e dirigidos por arqueólogos municipais, ou seja, funcionários públicos. Desde o seu início suscitaram reações do público a que foi necessário responder, no princípio casualmente, mas depressa seguindo uma estratégia de comunicação e de aproximação com a comunidade local, geral e científica.
Num mundo globalizado, em que se vive ao ritmo da (des)informação, a comunicação em arqueologia torna-se cada vez mais relevante para a divulgação científica dirigida ao público não especializado. No caso do grupo de estudo CIGA, que tem por objetivo estudar cerâmica islâmica, esta questão reveste-se de especial importância. Entre a comunicação científica e a divulgação para o público em geral, faz-se o balanço da atividade do grupo CIGA, em diferentes plataformas e veículos de comunicação, apresentando algumas reflexões sobre os seus resultados e estratégias a delinear para o futuro.
Possivelmente edificado durante o Período Filipino, o Forte de São João Batista da Praia Formosa integra a estrutura defensiva do sul da ilha de Santa Maria, constituindo um marco fundamental na memória coletiva dos marienses. Em 2023, após a sua classificação como Imóvel de Interesse Municipal, a Câmara Municipal de Vila do Porto decide investir na comunicação científica sobre este sítio, apesar do seu avançado estado de degradação. Através da virtualização deste bem patrimonial, com uma prévia fase de documentação e levantamento de dados no local, foi possível a apresentação ao público de um conjunto de ilustrações, infografias e de um vídeo da reconstrução virtual do Forte em meados do século XVIII, possibilitando, assim, a sua tangibilidade perante a comunidade.
O presente trabalho tem como principal objectivo relatar e reflectir sobre as diferentes actividades realizadas no estágio curricular decorrido entre Março de 2022 e Março de 2023, no Laboratório de Arqueociências (LARC-DGPC). No total foram realizadas 11 actividades distintas e divididas em 2 vertentes: investigação e processos administrativos. Também estão incluídas outras actividades. Deste conjunto de actividades, intencionalmente diversificadas para permitir o contacto directo com diferentes etapas do trabalho arqueológico, no campo – escavação, inventário e recolha de amostras, mas também na sua vertente administrativa – da utilização do Endovélico à visita de avaliação a trabalhos de tereno será exposto o balanço do estágio reflectindo sobre a transição do ambiente académico para o ambiente profissional, acrescentando-se uma reflexão das aprendizagens mais enriquecedoras.
Os autores, como certamente todos os colegas, têm pensado nos destinatários da arqueologia que praticam, ao longo da sua atividade, num caso como arqueóloga de uma autarquia aberta à comunidade (FE), noutro de professor universitário, quer em contexto de aula, quer de escavações integrando estudantes da sua, e de outras escolas (VOJ). É sobre essa multifacetada experiência que se propõem refletir, extraindo de tal experiência ensinamentos e procurando com eles ser úteis para as gerações ativas presentes e próximo-futuras. Porque a arqueologia, como todo o saber, situa-se na contemporaneidade, e é unicamente em diálogo com ela que tem sentido.
O aumento no volume, complexidade e velocidade de criação de dados obriga a utilizar um suporte computacional para o gerenciamento da informação. Décadas de conhecimento arqueológico e geoinformação têm sido armazenados em diferentes registros de dados que necessitam de ser padronizados para poderem ser utilizados em conjunto de forma eficiente. Este artigo foca a contribuição das abordagens baseadas em conhecimento para permitir representar características arqueológicas distintas em conjunto com parâmetros geográficos de modo a poderem ser utilizados em prol da detecção de sítios arqueológicos. Propomos que esta abordagem para além de tornar os dados FAIR, torna possível a utilização dos dados para melhorar as abordagens de reconhecimento automatizado ou para analisar, gerir e comunicar o conhecimento existente.
Este trabalho explora a arte-arqueologia, uma prática transdisciplinar que une arqueologia e arte contemporânea, através da análise de literatura internacional e estudos de caso portugueses. Focamos na exposição “Artefactos do Descarte”, que questiona a definição de artefacto arqueológico e explora a história e cultura material humana através de objetos descartados. Como que por sinais do maravilhoso, o público poderá, durante esta exposição, aprender sobre as arqueologias da presença, sobre a curadoria em arte-arqueologia e como esses conceitos são aplicados na teoria e prática arqueológica. Através deste caso de estudo reflexivo, pretendemos contribuir para a compreensão da arte-arqueologia enquanto uma disciplina que deve ser expandida para novas direções no campo da produção de conhecimento adaptado ao século XXI.