Publicações » Actas Congressos » IV Congresso da Associação dos Arqueólogos Portugueses
               » 3. Antiguidade Clássica e Tardia

 

 

Arqueologia em Portugal: 2023 - Estado da Questão

3. Antiguidade Clássica e Tardia

 

3.1 A PROPÓSITO DE MACHADOS POLIDOS ENCONTRADOS EM SÍTIOS ROMANOS DO TERRITÓRIO PORTUGUÊS E A CRENÇA ANTIGA NAS “PEDRAS DE RAIO”
Fernando Coimbra

Em alguns sítios romanos do território português têm surgido machados polidos, todavia sem ter existido ocupação pré-histórica nesses locais. Através de textos clássicos sabe-se que, na Antiguidade, esses artefactos eram considerados cerauniae (“pedras de raio”), com a propriedade de proteger os seus possuidores dos raios das trovoadas. Na Idade Moderna os machados polidos começam a ser compreendidos como utensílios de carácter pré-histórico, mas a mentalidade popular continua a atribuir-lhe capacidades profiláticas até meados do século passado. O autor aborda exemplos de machados polidos encontrados em sítios romanos como Conimbriga, Vale do Junco, S. Miguel de Amêndoa e Tapada, estes três últimos em Mação. Alguns achados de cerauniae em sítios proto-históricos pode significar que esta crença remonta à Idade do Ferro.

 

3.2 UNIDADES ORGANIZATIVAS E POVOAMENTO NO EXTREMO OCIDENTAL DA CIVITAS NORTE-LUSITANA DOS INTERANNIENSES: UM ENSAIO
Armando Redentor / Alexandre Canha

O presente artigo tem como objetivo geral a realização de uma análise de natureza ensaística sobre povoamento e unidades organizativas antigas no setor ocidental da civitas que na Antiguidade teve capital na atual cidade de Viseu, plausivelmente a dos Interannienses.

 

3.3 AS TERMAS ROMANAS DA QUINTA DO ERVEDAL (CASTELO NOVO, FUNDÃO)
Joana Bizarro

Os trabalhos arqueológicos que, desde 2007, temos vindo a realizar na Quinta do Ervedal (Castelo Novo, Fundão), na vertente sul da serra da Gardunha, revelaram dois edifícios termais de época romana, um dos quais poderá ter tido uma utilização pública. A estação arqueológica, cuja totalidade dos vestígios se encontra longe de ser conhecida, terá tido ocupação logo no início do século I d. C. e o seu abandonado, ainda que não nos seja claro, nos inícios do século VI. O desenvolvimento dos trabalhos de escavação e as prospeções na envolvente, levaram-nos a uma interpretação do sítio como eventual vicus, no entanto, subsistem ainda muitas dúvidas. As Ruínas Romanas do Ervedal constituem um excecional ponto de referência na arqueologia da Beira Interior, nos campos científico, identitário, didá- tico e potencialmente turístico, que importa continuar a preservar e salvaguardar. O projeto de investigação será retomado em 2024.

 

3.4 PAISAGEM RURAL, PAISAGEM LOCAL: OS PRIMEIROS RESULTADOS ARQUEOLÓGICOS E ARQUEOBOTÂNICOS DO SÍTIO DA TERRA GRANDE (CIVITAS IGAEDITANORUM)
Sofia Lacerda / Filipe Vaz / Cláudia Oliveira / Luís Seabra / João Tereso / Ricardo Costeira da Silva / Pedro C. Carvalho

Em torno da ciuitas Igaeditanorum e enquadrado no projeto de investigação FCT IGAEDIS, iniciou-se em 2022 a escavação arqueológica do sítio da Terra Grande (Idanha-a-Velha, Castelo Branco). Esta revelou a presença de uma extensa área edificada em ambiente rural, apontando para uma cronologia entre os séc. I e II d.C. Esta campanha incluiu a recolha de amostras sedimentares para estudo arqueobotânico também no âmbito do projeto FCT B-ROMAN. Este artigo focar-se-á na apresentação dos resultados arqueológicos preliminares e do estudo arqueobotânico deste sítio, enquadrando-os nas dinâmicas da paisagem rural do interior norte da Lusitânia, em especial ao nível da vegetação, assinalando-se as permanências e as mudanças observadas nos primeiros tempos do Império.

 

3.5 RECONTEXTUALIZAÇÃO DOS VESTÍGIOS ARQUEOLÓGICOS DO FORUM DE COIMBRA. UMA LEITURA A PARTIR DA COMPARAÇÃO TIPO-MORFOLÓGICA
Pedro Vasco de Melo Martins

Os fora construídos nas províncias ocidentais seguem frequentemente um modelo de planta quase idêntico, composto a partir de três elementos principais: o templo, a praça e a basílica, denominado de “forum tripartido”. Apesar da notável semelhança, limitações metodológicas e a exiguidade dos vestígios recuperados, geralmente não permitem evidenciar esta matriz de desenho comum. Porém o recente incremento do número de edifícios estudados e o desenvolvimento do desenho assistido por computador permitiram a realização de abordagens inovadoras a partir da comparação sistemática dos vestígios. Deste modo a comunicação visa demonstrar, através de uma leitura tipo-morfológica, como estes edifícios seguem um único esquema de proporções. Para este efeito será analisado em detalhe o forum de Coimbra evidenciando uma composição semelhante a outros edifícios como Évora ou Mérida.

 

3.6 SÍTIO DO ANTIGO (TORRE DE VILELA, COIMBRA): UMA POSSÍVEL VILLA SUBURBANA DE AEMINIUM
Rúben Mendes / Raquel Santos / Carmen Pereira / Ricardo Costeira da Silva

Em 2012, no âmbito de uma intervenção arqueológica de salvamento e prevenção, realizaram-se trabalhos de escavação no sítio do Antigo (Torre de Vilela, Coimbra) que permitiram recuperar alguma informação sobre o local que era pouco conhecido. Complementarmente aos alinhamentos murais, destaca-se o aparecimento de estruturas funerárias com espólio associado que possibilitam inferir um pouco mais sobre a sua cronologia de ocupação. Recentemente, foi possível traçar com maior rigor a área de dispersão dos materiais arqueológicos através da realização de trabalhos de prospecção. Apresentam-se os resultados destes trabalhos e do estudo do espólio exumado que forneceram informação relevante para discutir a tipologia e cronologia deste arqueossítio. Os elementos recuperados indicam que podemos estar perante uma propriedade fundiária tipo villa que terá sido ocupada até aos finais do Baixo Império.

 

3.7 A FACHADA NORTE DA CASA DOS REPUXOS (CONÍMBRIGA): RESULTADOS DAS CAMPANHAS DE 2021 E 2022
Ricardo Costeira da Silva / José Ruivo / Vítor Dias

O projecto em curso Conimbriga MMXX Avaliação do potencial científico e patrimonial do Vale Norte de Conímbriga incide sobre todo o vale norte da cidade, englobando áreas tão relevantes como a denominada Casa dos Repuxos, o Viaduto e o Anfiteatro. Neste texto pretende-se apresentar os resultados já obtidos no decurso deste projecto, nomeadamente os novos dados obtidos na Fachada Norte da Casa dos Repuxos nas campanhas de escavação de diagnóstico realizadas em 2021 e 2022. Para além da recuperação de parte da planta desta domus, até então desconhecida, tem sido possível constatar e perceber os seus ritmos de ocupação e caracterizar de forma detalhada as existências estruturais, estratigráficas e materiais nesta parcela urbana.

 

3.8 INTERVENÇÕES ARQUEOLÓGICAS EM CONDEIXA-A-VELHA NO ÂMBITO DAS ACÇÕES DO MOVIMENTO PARA A PROMOÇÃO DA CANDIDATURA DE CONÍMBRIGA A PATRIMÓNIO MUNDIAL DA UNESCO
Pedro Peça / Miguel Pessoa / Pedro Sales / João Duarte / José Carvalho/ Fernando Figueiredo / Flávio Simões

Ao abrigo de um protocolo firmado entre o Município de Condeixa e a Associação Ecomuseu de Condeixa, foi financiado, entre 2019 e 2022 um conjunto de acções sob o signo da promoção da candidatura de Conímbriga a Património Mundial da Unesco. Tendo como mote a precariedade estrutural em que se encontrava a Muralha Alto-Imperial de Conímbriga, os trabalhos, de cariz multidisciplinar, procuraram a valorização dos troços ainda intactos, através do registo, limpeza e conservação, mas também contribuir para o conhecimento deste monumento, nomeadamente com prospecções geofísicas e escavações arqueológicas. No Verão de 2021, através da aplicação destas últimas metodologias, foi possível identificar uma estrutura que interpretamos como sendo, a Porta de Aeminium da Muralha Alto-Imperial.

 

3.9 O SÍTIO ARQUEOLÓGICO DE SÃO SIMÃO, PENELA
Sónia Vicente / Flávio Simões / Ana Luísa Mendes

O Sítio Arqueológico de São Simão localiza-se no vale do rio Dueça, no concelho de Penela, Distrito de Coimbra. Alvo de várias intervenções ao longo do século XX e XXI, revelou nestes últimos sete anos de investigação arqueológica, um elevado potencial de estudo e musealização. A presença da villa romana testemunha a ocupação desde os finais do séc. II/III d.C, posteriormente reocupada por uma população de cultura suevo-visigótica. Este espaço converteu-se num lugar de culto, acolhendo eremitas e conventuais na idade média necrópole e capela, na época moderna. A longa diacronia do Sítio destaca este dos demais espaços arqueológicos em investigação e abertos ao público, oferecendo um forte testemunho das várias culturas que passaram por este território.

 

3.10 O SÍTIO ARQUEOLÓGICO DA TELHADA (VERMOIL, POMBAL)”
Patrícia Brum / Mariana Nabais / Margarida Figueiredo / João Pedro Bernardes

O sítio arqueológico da Telhada, na freguesia de Vermoil (Pombal), começou por ser intervencionado no âmbito do projecto de doutoramento de João Pedro Bernardes, que desenvolveu o PNTA/98 “A Civitas de Collipo – Povoamento, Metalurgia e Arqueomagnetismo”. Mais tarde, Maria Pilar dos Reis efectuou uma curta campanha de limpeza e prospecção, em 2016. Classificado como vicus, ou mansio, tanto quanto conhecemos sem termas, com ocupação identificada de finais do século I até, pelo menos, ao século V, este sítio revela-nos informação sobre a ocupação rural do interior da civitas de Collipo, conforme assinalado em estudos já publicados. As estruturas arquitectónicas que se conhecem no local indicam um investimento significativo, existindo uma abside de 6,80 metros de diâmetro interno com pavimento em opus signinum. Em estreita articulação com a Câmara Municipal de Pombal e a Junta de Freguesia de Vermoil, iniciaram-se em 2023 novas intervenções arqueológicas. Estas tiveram como objectivo principal uma primeira avaliação do sítio arqueológico da Telhada, através de uma limpeza cuidada que permitiu expor e melhor compreender as estruturas previamente escavadas. Adicionalmente, procedeu-se ao estudo da documentação e espólio das escavações antigas, procurando proporcionar uma interpretação e leitura do sítio à luz dos conhecimentos actuais. Esta primeira abordagem pretende aferir o potencial deste monumento e qual a melhor forma de o valorizar, de modo a que o sítio se torne acessível ao público.

 

3.11 GORGONA – UM CORPUS DE OPUS SECTILE NA LUSITÂNIA
Carolina Grilo / Lídia Fernandes / Patrícia Brum

Ao longo das últimas décadas, o estudo e o comércio dos materiais de revestimento tem vindo a adquirir um lugar de destaque na arqueologia romana peninsular e demonstrado a importância do comércio, circulação e distribuição destes bens na Hispânia. Mais evidente nas restantes províncias, o estudo dos materiais de revestimento na província da Lusitânia, especialmente no que respeita ao território nacional, encontra-se ainda numa fase embrionária, circunscrito a escassos locais, na sua maioria resultante de intervenções antigas depositadas em fundos de museus e com fortes carências de documentação de referência. A publicação destes materiais é igualmente reduzida face às incertezas da sua correta classificação e identificação, bem como pela falta de análises que permitam reconhecer a sua origem. A necessidade de sistematizar e caraterizar os diferentes materiais de revestimento e litotipos presentes na arquitetura pública e privada da província da Lusitânia resultou no desenvolvimento do projeto Gorgona – Corpus de litotipos de revestimento ornamental da Lusitânia. O objetivo deste projeto prende-se com a inventariação e classificação dos materiais de revestimento identificados no espaço provincial, presentes em sítios arqueológicos, museus e/ou outros locais e rastrear a sua origem, peninsular e/ou de importação, sob critérios tipificados, com vista a uma caracterização precisa. Pretende-se com esta comunicação efetuar a apresentação do projeto, que resulta de uma iniciativa do Museu de Lisboa – Teatro Romano / EGEAC em parceria com o LNEG / Museu Geológico e IST/UL – Museus de Geociências e beneficiando da interdisciplinaridade entre a Arqueologia e a Geologia, numa análise histórica e analítica, por forma a criar um corpus informativo de referência.

 

3.12 VILLA ROMANA DA HERDADE DAS ARGAMASSAS. DELTA, MOTIVO DE INSPIRAÇÃO SECULAR. DO MOSAICO AO CAFÉ
Vítor Dias / Joaquim Carvalho / Cornelius Meyer

A Villa romana da Herdade das Argamassas, localizada na freguesia de São João Baptista, concelho de Campo Maior, regista interessantes potencialidades patrimoniais e proveitosa próximidade com o Centro de Ciência do Café. O presente estudo enquadra-se no âmbito dos trabalhos arqueológicos desenvolvidos entre setembro de 2015 e setembro de 2016, cuja metodologia incluiu sondagens arqueológicas e prospeção geofísica. Desde o início dos trabalhos, na sequência do contacto da entidade contratante Delta Ciência e Desenvolvimento, que se pretendeu reavaliar a dimensão e o potencial científico-patrimonial e respetivo índice de preservação/conservação das estruturas arqueológicas já escavadas em intervenções anteriores. Apresentam-se neste contexto os resultados dos estudos sobre esta vila ainda numa fase embrionária do seu conhecimento científico.

 

3.13 A ANTIGUIDADE TARDIA NO VALE DO DOURO: O EXEMPLO DE TRÁS DO CASTELO (VALE DE MIR, PEGARINHOS, ALIJÓ)
Tony Silvino / Pedro Pereira / Rodolphe Nicot / Laudine Robin / Yannick Teyssonneyre

A intervenção em Trás do Castelo (Vale de Mir, Pegarinhos, Alijó) permitiu a descoberta do elemento económico de um estabelecimento rural, cujo estatuto continua como indeterminado (villa, aglomeração secundária?). A construção inicial data do final do século I da nossa Era, com um primeiro abandono no final do século III. Durante o século IV, o sítio foi re-ocupado, com a construção de novas estruturas, mas também com uma reocupação de espaços do Alto Império. As atividades desenvolvidas estão ligadas à exploração de recursos naturais, como a viti-vinicultura, a cerealicultura, pastorícia, etc. A ocupação tardo-antiga, que dura até ao início do século V, é também marcada pela existência de, pelo menos, cinco depósitos numismáticos. Em 2022, a intervenção realizada permitiu descobrir um conjunto de 1354 peças numismáticas, tanto em níveis de demolição como em níveis de solo. Este conjunto, localizado em quatro espaços contíguos, estava acompanhado por uma quantidade impressionante de materiais (objetos metálicos, de adorno, cerâmicos, com especial destaque para dolia, elementos em vidro, etc). A intervenção de 2023 permitiu enriquecer este conjunto de materiais. No entanto, as razões para este acumular de materiais, muito distintos, num espaço tão limitado, coloca ainda diversas questões.

 

3.14 A ARQUEOLOGIA URBANA EM BRAGA: OPORTUNIDADES E DESAFIOS. O CASO DE ESTUDO DA RUA NOSSA SENHORA DO LEITE, NOS 8/10
Fernanda Magalhães / Luís Silva / Letícia Ruela / Diego Machado / Lara Fernandes / Eduardo Alves / Manuela Martins / Rebeca Blanco-Rotea / Maria do Carmo Ribeiro

A arqueologia urbana lida com vários desafios, mas também inúmeras oportunidades, que poderíamos afirmar atualmente de modo quase diário, muito embora estes possam ser muito variáveis de acordo com a cidade onde é praticada. No caso de Braga, em 2023 completam-se 47 anos de atividade arqueológica sistemática, ligada ao ‘Projeto de Salvamento de Bracara Augusta’, que inclusivamente marcou o início da arqueologia urbana em Portugal. Ao longo destas mais de 4 décadas, graças a uma forte cooperação institucional, e, paralelamente à experiência acumulada, tem sido produzido conhecimento muito substantivo sobre a evolução urbana de Braga desde a época romana até à atualidade. Nesse sentido, a intenção desta comunicação, que usará para o efeito a análise das intervenções arqueológicas realizadas nos lotes nºs 8 a 10 da rua Nossa Senhora do Leite, com um intervalo de quase 50 anos, é demonstrar, em última análise, como os resultados da cooperação científica potenciam o conhecimento do subsolo das cidades, promovem a redução dos impactos e dos custos das intervenções arqueológicas, contribuindo para a produção de novos patrimónios, e deste modo, para a sustentabilidade dos núcleos urbanos.

 

3.15 BALNEÁRIO ROMANO DE SÃO VICENTE (PENAFIEL): PROJETO DE REVISÃO DAS ESTRUTURAS CONSTRUÍDAS E DO CONTEXTO HISTÓRICO-ARQUEOLÓGICO DO SÍTIO
Silvia González Soutelo / Teresa Soeiro / Juan Diego Carmona Barrero / Jorge Sampaio / Helena Bernardo / Claus Seara Erwelein

Apresentamos a proposta e primeiros resultados do projeto de revisitação, por uma equipa internacional, de um sítio arqueológico invulgar do Norte de Portugal, o balneário medicinal romano de São Vicente (Penafiel), descoberto em 1901, preservado na íntegra por vontade do proprietário da estância termal em construção e desde aquela data patente ao público, que também dispunha da excecional monografia publicada, em 1902, por José Fortes, o arqueólogo que acompanhou os trabalhos. Passado mais de um século, novos conhecimentos, tanto sobre termalismo romano como relativos à história e arqueologia do território sul da Callaecia, vieram sublinhar problemas de interpretação pendentes, que uma abordagem com metodologia e recursos técnicos hoje disponíveis tentará esclarecer, sempre que possível com técnicas inovadoras e minimamente intrusivas.

 

3.16 UM CONTEXTO CERÂMICO TARDO-ANTIGO DA CASA DO INFANTE (PORTO)
João Luís Veloso / Paulo Dordio Gomes / Ricardo Teixeira / António Manuel S. P. Silva

No presente artigo damos a conhecer novos dados relativos à ocupação tardo-antiga e alto-medieval da cidade do Porto através da análise de um contexto estratigráfico selado da Casa do Infante. Este consiste num poço abandonado, do qual se recolheu um conjunto cerâmico diversificado, com relativa homogeneidade cronológica. Entre as diversas produções cerâmicas, identificou-se Terra Sigillata Africana da forma Hayes 52B, assim como envases Late Roman Anfora 1. Associando-se estas importações a um copioso conjunto de cerâmica comum de diversas procedências, atribui-se este contexto o ao 1º terço do século V. A partir destes dados procuramos refletir acerca de como a cidade de Portucale se inseria na malha de relações comerciais do Noroeste Peninsular nas vésperas da transição para o seu período Suevo-Visigótico.

 

3.17 TRABALHOS ARQUEOLÓGICOS NO PATARINHO (SANTA COMBA DÃO, VISEU): CARACTERIZAÇÃO DE UMA PEQUENA ÁREA DE PRODUÇÃO VINÍCOLA NO VALE DO DÃO EM ÉPOCA ALTO-IMPERIAL
Pedro Matos / João Losada

Em escavações recentemente realizadas no sítio arqueológico Patarinho (Santa Comba Dão, Viseu), foram descobertas as ruínas de um edifício romano integrado numa unidade de exploração agrícola. Em época alto-imperial, serviu exclusivamente como área de trabalho direcionada, principalmente, à vinicultura. Ao contrário de sítios relacionados com escalas de produção intensiva, o estudo das pequenas e algo rudimentares áreas de trabalho associadas à exploração rural no Período Romano está ainda em fase incipiente em Portugal, sendo poucos os exemplos com os quais podemos estabelecer paralelos. Desta forma, através da apresentação dos trabalhos realizados no Patarinho, esperamos contribuir para a construção de um corpo de dados científicos com o qual, futuramente, seja possível definir alguns critérios para a classificação tipológica desses sítios.

 

3.18 SOBRE A OCUPAÇÃO TARDIA DA VILLA DA QUINTA DA BOLACHA – ESTUDO DE UM CONTEXTO DE OCUPAÇÃO DA CASA ROMANA
Vanessa Dias / Gisela Encarnação / João Tereso

A villa da Quinta da Bolacha, localizada na Falagueira (Amadora), possui uma longa e complexa diacronia de ocupação, que lhe confere singular importância no contexto da caracterização do ager de Olisipo. A sua ocupação durante a antiguidade tardia é a que surge mais nitidamente na leitura estratigráfica, uma vez que se sobrepôs às anteriores, promovendo uma profusa remodelação das áreas da villa. O contexto 48, datado de meados do século V d.C., foi identificado no Setor I, no interior de um compartimento da pars urbana, que terá funcionado como cozinha. O seu estudo pormenorizado, a partir da observação da sua implantação, dos materiais arqueológicos e da análise arqueobotânica, permite acrescentar conhecimento para as realidades cronológicas semelhantes existentes na Estremadura.

 

3.19 OS MATERIAIS DO SÍTIO ROMANO DE EIRA VELHA (MIRANDA DO CORVO) COMO ÍNDICE CRONOLÓGICO DAS SUAS FASES DE CONSTRUÇÃO
Inês Rasteiro / Ricardo Costeira da Silva / Rui Ramos / Inês Simão

Os trabalhos de natureza preventiva realizados no âmbito da empreitada da construção da Concessão do Pinhal Interior (IC3) – Avelar/Condeixa (em 2011) colocaram a descoberto o sítio arqueológico de Eira Velha (Miranda do Corvo, Coimbra). Para além da sua interpretação como estação viária, a escavação arqueológica permitiu distinguir diversos momentos de construção associados à ocupação deste sítio em época romana e balizá-los, genericamente, entre os meados do séc. I d.C. e os finais do séc. IV d.C. Apresentam-se os resultados do recente estudo da cultura artefactual exumada que se foca, essencialmente, num conjunto de materiais tidos como indicadores cronológicos e que permitem refletir acerca das fases de construção e do respetivo ciclo de vida deste arqueossítio.

 

3.20 CERÂMICA DE IMPORTAÇÃO EM TALABRIGA (CABEÇO DO VOUGA, ÁGUEDA)
Diana Marques / Ricardo Costeira da Silva

O presente texto ocupa-se do estudo da cerâmica de importação de época romana (terra sigillata, ânfora e cerâmica de engobe vermelho pompeiano) recuperada entre 1996-2005 nas intervenções desenvolvidas na estação arqueológica do Cabeço do Vouga (Águeda), que deverá corresponder à Talabriga mencionada por Plínio (HN 4, 113 e 116). Através da análise concreta deste mobiliário artefactual procura-se perceber a importância e protagonismo económico do lugar dada a sua proximidade privilegiada ao oceano e como isso poderá ter favorecido a existência de redes comerciais dinâmicas. Com efeito, ao proporcionar uma conexão directa à rede de rotas marítimas, esta posição estratégica terá certamente contribuído de forma decisiva para o processo de desenvolvimento urbano desta capital de civitas.

 

3.21 REVISÃO DOS OBJETOS PONDERAIS RECUPERADOS NA ANTIGA CONIMBRIGA (CONDEIXA-A-NOVA, COIMBRA)
Diego Barrios Rodríguez / Cruces Blázquez Cerrato

Os pesos, contrapesos, balanças e outros objetos relacionados com as operações de pesagem oferecem informações interessantes e extraordinárias sobre a organização socioeconómica e cultural das populações que os fabricavam e utilizavam. Salvo raras exceções, o estudo destes objetos tem sido relegado para segundo plano na investigação científica, onde, aliás, o contexto em que foram encontrados é geralmente ignorado. Por esta razão, apresentamos aqui uma primeira análise dos testemunhos de peso da cidade romana de Conimbriga (Condeixa-a-Nova, Coimbra) com o objetivo de abordar a sua evolução e as suas características.

 

3.22 O CONJUNTO DE PESOS DE TEAR DO SÍTIO ROMANO DE ALMOÍNHAS
Martim Lopes / Paulo Calaveiras / José Carlos Quaresma / Joel Santos

O presente trabalho tem como objectivo principal desenvolver o conhecimento sobre os pesos de tear exumados nas intervenções arqueológicas no sítio das Almoínhas, intervencionado pelo Museu Municipal de Loures (1995-2002) e pela empresa ERA-Arqueologia (2005/2006). Sito no actual concelho de Loures, tem uma ocupação comprovada entre o início do século II e a primeira metade do século VI d.C.. Trata-se de um sítio com uma arquitectura complexa, de diferentes funcionalidades, nomeadamente através de um edifício habitacional, um edifício associado a possíveis trabalhos produtivos, uma área de lixeira, uma área necropolar, parcialmente escavada e estudada, e três fornos de produção cerâmica, com os quais parte do espólio em análise poderá estar relacionado (acumulações de materiais junto a estas estruturas). Sobre o sítio de Almoínhas já se encontram estudados os conjuntos de cerâmicas finas e ânforas, os quais, aliados a uma remontagem estratigráfica, permitem que actualmente exista uma crono-estratigrafia da ocupação já bastante bem delineada. Tendo em consideração os dados crono-estratigráficos do sítio, analisar-se-á este conjunto de pesos de tear, constituído por algumas dezenas de exemplares, que se apresenta como inovador para o conhecimento do ager de Olisipo, pelo seu conjunto de decorações e grafitos, temática praticamente desconhecida na bibliografia sobre a região.

 

3.23 A TERRA SIGILLATA E A CERÂMICA DE COZINHA AFRICANA NA CIDADE DE LISBOA NO QUADRO DO COMÉRCIO DO OCIDENTE PENINSULAR – O CASO DO EDIFÍCIO DA ANTIGA SEDE DO BANCO DE PORTUGAL
Ana Beatriz Santos

Apresenta-se uma abordagem ao conjunto de terra sigillata e de cerâmica de cozinha africana exumado no decorrer da intervenção arqueológica realizada no edifício da antiga Sede do Banco de Portugal. Identificaram-se diversas categorias cerâmicas, com uma diacronia que se estende desde o final do séc. I a.C. até finais do V/meados do séc. VI d.C., tais como a sigillata itálica, a sudgálica, a de imitação tipo Peñaflor, a hispânica, a sigillata clara A, C e D, a hispânica tardia e a cerâmica de cozinha africana. Este estudo permitiu observar padrões de consumo e de importação destas cerâmicas para a área de Lisboa, assim como comparar os dados obtidos com as informações existentes para outros sítios de Olisipo e do actual território português.

 

3.24 ANÁLISE (IM)POSSÍVEL DOS ESPÓLIOS ARQUEOLÓGICOS DO SÍTIO DO MASCARRO (CASTELO DE VIDE, PORTUGAL)
Sílvia Monteiro Ricardo

O sítio de Mascarro foi intervencionado arqueologicamente na década de 1980, mostrando essencialmente parte de um torcularium romano e compartimentos domésticos alto-medievais. Ainda que limitados pela metodologia utilizada, verificamos que existe uma cultura material e uma cultura construtiva bastante distinta nos vários setores que é apenas parcialmente conhecida. Consideramos que para entender este complexo local, especialmente em termos de cronologias ocupacionais e de abandono, é essencial verificar e analisar os materiais encontrados durante as escavações arqueológicas ou os achados de prospeção.

 

3.25 RECONSTRUINDO A PAISAGEM URBANA DE BRAGA DESDE A SUA FUNDAÇÃO ATÉ À CIDADE MEDIEVAL: AS RUAS COMO OBJETO DE ESTUDO
Letícia Ruela / Fernanda Magalhães / Maria do Carmo Ribeiro

A malha urbana como objeto de estudo histórico proporciona a possibilidade de identificar os componentes urbanos que sobreviveram à passagem do tempo e às mudanças contextuais que a cidade conheceu ao longo do seu desenvolvimento. Por sua vez, as ruas, que compõem morfologicamente a cidade, condicionaram a origem e as formas de desenvolvimento subsequentes de alguns dos outros componentes do plano urbano. Em Braga, cidade de fundação romana, a malha urbana clássica foi sendo adaptada de forma diferenciada até à atualidade. A proposta deste trabalho centra-se na metodologia de análise do sistema viário de Braga, desde a sua fundação até à Baixa Idade Média, e pretende constituir um contributo para o conhecimento das transformações urbanas ocorridas na paisagem urbana bracarense.

 

3.26 A DINÂMICA VIÁRIA NO VALE DO RABAGÃO: A VIA XVII E O CONTRIBUTO DOS ITINERÁRIOS SECUNDÁRIOS
Bruno Dias / Rebeca Blanco-Rotea / Fernanda Magalhães

A conquista romana do Noroeste Peninsular deve ser entendida como uma pequena parte de um processo complexo conhecido como ‘Romanização’, que alterou significativamente a realidade socioeconómica dos territórios conquistados, a própria conceção arquitetónica das cidades, mas também a forma como as mesmas comunicavam entre si. Esta comunicação era feita através de uma rede viária organizada e estratificada com o intuito de manter o controlo político e socioeconómico dos territórios conquistados, como terá sido o caso da via XVII (Bracara Augusta – Asturica Augusta) que percorre a totalidade do vale do Rabagão, bem como outras áreas de potencial mineralógico nas imediações. Porém, as vias secundárias parecem ter um papel promissor e relevante na construção da paisagem deste vale.

 

3.27 RESULTADOS DAS LEITURAS GEOFÍSICAS DE MONTE DOS CASTELINHOS, VILA FRANCA DE XIRA
João Pimenta / Tiago do Pereiro / Henrique Mendes / André Ferreira

O sítio arqueológico de Monte dos Castelinhos é uma fundação de raiz, no contexto tardio de conquista romano da província da Ulterior assumindo desde a sua génese uma posição geoestratégia de controlo de uma zona de fronteira natural na península de Lisboa e baixo-Tejo. Nos últimos anos, recentes trabalhos de prospeção e escavação revelaram uma importante fase de renovação urbanística do sítio, com cronologias de inícios do Principado de Augusto, revelando um inegável cariz urbano durante esta fase. Tendo como objetivo a publicação sistemática do conjunto de evidências materiais e contextuais, associados a este projeto de investigação, pretende-se com este trabalho trazer a público as leituras geofísicas aqui efetuadas. As amplas leituras obtidas, permitem perspetivar as investigações futuras e levantam questões e problemáticas inesperadas.

 

3.28 LOCA SACRA: PARA UMA TOPOGRAFIA DOS LUGARES SIMBÓLICOS NO ATUAL ALENTEJO EM ÉPOCA ROMANA
António Diniz

O tema da religiosidade, trabalhado do ponto de vista da arqueologia tem sido um tópico em ascensão. Em Portugal, o início do século XX teve uma grande produção dentro deste tema. Contudo, o assunto teve menor foco no século XXI, dentro dos estudos relacionados com o período romano. Pretendemos refocalizar a investigação para a temática suprarreferida através de um levantamento da epigrafia e estatuária de sítios associados às práticas e ritos do “início da Romanização”. A fim de obter uma melhor perceção do material no espaço ao longo do tempo, recorreu-se ao uso dos SIG. Neste contributo, expomos as problemáticas enfrentadas, a cartografia e os resultados alcançados acerca da dinâmica votiva no nosso território, e nas materialidades à época.

 

3.29 MOSAICOS DA ÁREA DE INFLUÊNCIA DE PAX IVLIA
Maria de Fátima Abraços / Licínia Wrench

Neste trabalho apresentamos o estudo de um conjunto de mosaicos romanos das colecções do Museu Rainha D. Leonor de Beja e do Museu de Arqueologia do Castelo de Vila Viçosa. Estes mosaicos são provenientes de estações arqueológicas da área de influência de Pax Iulia, incluindo os desta cidade, trazidos na sua maioria pela mão do arqueólogo Abel Viana. A análise que pretendemos fazer sobre o trabalho desenvolvido por este arqueólogo no que respeita ao percurso do mosaico nas diferentes etapas – escavação, levantamento, restauro, consolidação e exposição museológica – poderá servir como ensinamento, reflecção e discussão sobre a prática destas diferentes fases às quais os mosaicos romanos podem estar sujeitos.

 

3.30 A EXPLORAÇÃO DE PEDRAS ORNAMENTAIS NA LUSITÂNIA: PRIMEIROS DADOS DE UM ESTUDO EM CURSO
Gil Vilarinho

No texto que se segue apresenta-se um breve enquadramento do projecto MARMORAT, uma investigação em curso que pretende analisar o comércio de pedras ornamentais na Lusitânia romana, seguindo-se uma análise de alguns dos dados obtidos até ao momento no decurso da investigação, em particular relativos à actividade extractiva e à exploração de mármores no território actualmente português. Neste âmbito, são apresentados e debatidos os resultados dos trabalhos arqueológicos desenvolvidos, até então, no Tanque dos Mouros, uma importante e complexa estrutura hidráulica de época romana que estará associada à exploração de mármore no Anticlinal de Estremoz. Os dados obtidos permitem aventar hipóteses interessantes relativas à funcionalidade e ao contexto desta estrutura, e salientam, concomitantemente, a necessidade de trabalhos arqueológicos adicionais.