O presente artigo apresenta uma primeira síntese da presença de cerâmicas islâmicas no território setentrional do Garb “português” partindo da pesquisa bibliográfica, com o objectivo de expor e discutir as presenças/ausências de cerâmicas correlacionáveis com protótipos islâmicos entre os séculos VIII e XII, comparando as realidades conhecidas a norte e a sul do Douro. A partir do seu mapeamento tentar-se-á definir e caracterizar realidades geográficas e de povoamento, com particularidades relativas à sua maior ou menor relação com o mundo islâmico, contribuindo assim para a definição de um limite territorial do Garb al-Andalus a partir dos dados arqueológicos.
As numerosas escavações que temos dirigido de contextos islâmicos no sul de Portugal, designadamente em Silves, ofereceram, entre muito outro espólio, conjunto artefactual tipologicamente diversificado, que podemos relacionar com a cosmética. Entendemos esta como actividade que usa objectos e produtos destinados não só ao embelezamento, como à conservação e protecção do corpo, nomeadamente no caso dos humanos, da pele, cabelo, olhos, dentes, etc… A cosmética tem existência próxima da medicina e, sobretudo, da farmácia.
Apresentação dos resultados preliminares da escavação arqueológica realizada na Encosta Sul do Castelo de Palmela.
A realidade arqueológica colocada a descoberto, em 1992 e 1993, na igreja de São Lourenço, situada Mouraria, em Lisboa, revelou uma ampla diacronia de ocupação, que se traduz numa sequência de enterramentos atribuíveis à idade média e moderna, associados ao espaço de culto; mas também, num conjunto de quinze silos que, de acordo com o espólio exumado do seu interior, se enquadram no período medieval islâmico, sendo anteriores à edificação da igreja.
Desta feita, pretende-se dar a conhecer a componente artefactual cerâmica que foi exumada do interior das estruturas de armazenamento, o seu significado e que relação possui este contexto com a realidade associada ao espaço de culto religioso, que se lhe sobrepõe.
Apresentam-se dois casos na bacia do Tejo em que estruturas negativas terão sido utilizadas como espaços domésticos. Os conjuntos artefactuais revelam uma cronologia em torno dos séculos XII-XIII e os perfis cerâmicos são claramente dissonantes das produções tipificadas para o período islâmico. Correspondem antes a soluções que evoluíram sem contacto com influências meridionais, características do Centro e Norte da Península.
A tipologia dessas estruturas, conjuntamente com a hipotética origem geográfica dos seus construtores, torna razoável equacionar que estejamos perante habitats provisórios de populações recém-chegadas a estas latitudes. Assim, conclui-se que correspondem ao registo material do elemento humano que escorou a progressiva implementação nesta região de uma formação social diversa, após a conquista cristã, dinamizando novas fórmulas de exploração e controlo territorial.
Compreender a fronteira do nordeste transmontano, a sua defesa e dinâmica no contexto da formação do reino de Portugal, requer uma apreensão da ocupação territorial cuja génese mergulha em períodos ancestrais. As estratégias e opções de fixação de comunidades ao longo dos séculos, obedecendo a diferentes condicionalismos e oportunidades, desenharam um cenário que viria a enquadrar, com todas as suas dificuldades e vicissitudes, uma política de autonomia em relação ao território leonês/castelhano.
O desequilíbrio patente no conhecimento que tem sido produzido sobre estes períodos ancestrais, suscita questões inevitáveis sobretudo sobre a ausência de materialidades para o período alto medieval nesta região.
Foi este silêncio que suscitou uma análise crítica dos dados conhecidos, propondo abordagens diversificadas que podem trazer alguma objetividade.
Apresentam-se os resultados preliminares do projecto «Sepulturas escavadas na rocha do Norte de Portugal e do Vale do Douro» (SER-NPVD)”, que se propôs sistematizar a informação sobre as sepulturas rupestres do Norte de Portugal, abarcando as duas margens do vale do Douro e todo o espaço a norte deste rio. Esboça-se uma primeira caracterização das estações identificadas e das sepulturas que as constituem, sendo abordadas as suas principais características e o tipo de espaço funerário em que se inserem. Procura-se também apresentar uma primeira leitura da integração paisagística destes monumentos e da sua relação com alguns dos elementos estruturadores do povoamento.
Apresentamos neste artigo objetivos, metodologia e alguns resultados preliminares do trabalho que, desde 2019, temos vindo a desenvolver no âmbito da nossa tese de Mestrado. Concretamente, fazemos um resumo da primeira fase do estudo, que incidiu na classificação da coleção de cerâmica comum proveniente dos níveis ocupacionais alto-medievais do arqueossítio da rua de D. Hugo, nº 5, localizado em pleno centro histórico da cidade do Porto.
Desde a proto-história que o território de Lafões foi submetido a uma intensa ocupação humana, com o intuito de explorar as suas riquezas minerais. Durante a Alta Idade Média foi uma zona chave na região centro de Portugal. Aqui encontramos indícios (escritos e arqueológicos) para a presença de populações locais cristãs, às quais se vieram juntar membros da nobreza galaico-asturiana, por eventual acordo estabelecido entre os sécs. IX e X. Após quase uma centúria de domínio político cristão, a região de Lafões ficou temporariamente na posse muçulmana, para ser finalmente resgatada quando se deu a reconquista de Viseu (1058) e de Coimbra (1064). Nessa altura, a fortificação da Senhora do Castelo (Vouzela), conhecida na documentação, mas só agora revelada arqueologicamente, já desempenharia funções estratégicas de relevância.
A realização de uma intervenção arqueológica de diagnóstico e de salvaguarda patrimonial, na avenida de Santa Joana, Aveiro, no biénio de 2017-18, permitiu a constituição de um acervo cerâmico até ao momento sem paralelos conhecidos na cidade.
Proveniente de depósitos de aterro antrópicos e de estruturas em negativo, o conjunto cerâmico insere-se numa linha temporal estremada entre o século IX e o séc. XIII, constituído por vasilhames de caráter doméstico como panelas, alguidares, jarros, bilhas, potes e caçoilas. Fragmentos com pastas resultantes de diferentes fabricos e gramáticas decorativas plásticas em cordão, puncionadas ou incisas.
Os indivíduos exumados do Convento do Lóios do Porto, intervencionado em contexto de arqueologia de salvaguarda prévio à construção do Hotel Intercontinental e à requalificação do Quarteirão das Cardosas, foram estudados parcialmente no âmbito de uma tese de mestrado. São apresentados num contexto mais abrangente das práticas funerárias da Baixa Idade Média a Época Moderna, sendo utilizados como ponto de partida para explorar a importância das fontes históricas aliadas ao estudo dos dados bioarqueológicos para reconstruir as práticas mortuárias para o período em análise. O estudo dos indivíduos exumados revela diversas semelhanças com indivíduos exumados de outros sítios arqueológicos contemporâneos, assim como levanta questões relativas à preservação de informação histórica e bioarqueológica relativa aos contextos funerários.
As peregrinações a Santiago de Compostela possuem origens seculares. Em Portugal, um dos Caminhos de peregrinação mais antigos é o Caminho Português Interior de Santiago (CPIS), cujo itinerário assenta em antigas vias romanas e medievais.
O objetivo deste trabalho pretende identificar as estruturas pré-existentes como calçadas e pontes, tendo por base a realização de trabalho de campo in situ. Estas estruturas são importantes em termos arqueológicos e porque desempenharam um papel fundamental na passagem dos peregrinos e das comunidades locais, acabando mesmo por chegar aos nossos dias. As evidências históricas e arqueológicas permitem comprovar que o CPIS (Viseu – Vila Real – Chaves – Verín – Ourense – Santiago de Compostela) desempenhou um eixo viário principal desde a Idade Média.
O estudo da fotografia aérea através da fotointerpretação e da fotointerpretação da morfologia urbana não é novidade na Arqueologia, ainda que cada vez mais se recorra a ela para tirar conclusões do foro arqueológico. Para além da identificação de possíveis sítios arqueológicos, a fotografia aérea é também um recurso para a leitura de morfologias urbanas. Aliás, é bastante útil na percepção da evolução do traçado da malha urbana.
Ao observarmos uma paisagem – urbana ou não – devemos sempre ter em atenção o seu dinamismo. Assim, através da detecção de transmissões Isotópicas, Isoaxiais e Isoclinas, propomo-nos desenvolver uma proposta de evolução morfológica do Núcleo Medieval de Ourém ao longo dos tempos e cruzar essa análise com a realidade arqueológica já conhecida.
Em maio de 2018, a necessidade de repor um antigo muro de suporte de terras localizado na Rua Marquês de Pombal/Largo do Espírito Santo, em Bucelas, no concelho de Loures, expôs um contexto cemiterial que motivou uma intervenção arqueológica de emergência, a qual decorreu até dezembro de 2019, circunscrita à zona de afetação da obra.
Os trabalhos permitiram identificar uma necrópole que revelou 157 inumações primárias e secundárias, dois ossários (1 e 2) que continham, respetivamente, 101 e 262 indivíduos, além de reduções ósseas. Distribuiu-se por ampla cronologia (séculos XV a XIX). Sob ela, foram revelados vestígios de ocupação de época romana dos séculos I a II d. C., com estruturas murais simples, formando três compartimentos sub-quadrangulares.
A intervenção arqueológica levada a cabo em 2018 na Rua do Poço do Borratém em Lisboa, permitiu identificar um segmento de espaço funerário com cronologias dos séculos XIII a XV, pelo registo de cerâmicas de importação. Este estudo pretende apresentar o contexto identificado e, posteriormente integrá-lo na espacialidade da cidade de Lisboa, compilando outros contextos funerários de cronologia medieval intervencionados na mesma. Procura-se, portanto, apresentar um estado da questão relativo a estes contextos, dada a importância da colaboração de vários elementos.
A intervenção arqueológica da Praça da Figueira, em Lisboa, foi executada entre 1999 e 2001, tendo correspondido a uma acção reativa a um plano municipal de reabilitação e revitalização do espaço público. O conhecimento sobre a fisionomia da área na Baixa Idade Média encontrava-se mal-esclarecido, embora diversa documentação coeva garantisse que correspondia, na maior parte da área escavada, às antigas Hortas do Convento de São Domingos da Cidade, fundado em 1242, e sobre as quais se ergueria a partir de 1492 o Hospital Real de Todos-Os-Santos.
Neste contexto, no ângulo SO da intervenção arqueológica, reconheceu-se uma area murada à qual foi dada uso funerário, e onde foram identificadas oito sepulturas praticadas em covacho sugerindo uma regular gestão do espaço.